terça-feira, 17 de março de 2015

Os vícios entre a política e a justiça

Eduardo Dâmaso
Director Adjunto do Correio da Manhã



Em tempos de eleições começa a perceber-se que há vícios na relação entre política e justiça que se podem repetir sob a forma de mudanças de lei vindouras, nomeações cirúrgicas ou outros truques. O processo penal tornou-se, de uma forma já pouco envergonhada, num território do combate político.
Não na perspectiva do ataque da justiça contra a política ou do partido A ao partido B, mas na que transforma a manipulação legislativa num instrumento de defesa de uma parte da classe política face às investigações. Quem foi dominando a produção de leis foi criando a sua própria quase imunização. Essas estratégias sofreram um rude golpe com as prisões recentes, mas a crescente territorialização política do processo penal tem tido graves consequências no relacionamento entre operadores judiciais e governos, entre operadores judiciais propriamente ditos e na relativização imparável de um princípio sagrado em democracia que é a separação e a interdependência de poderes. O Freeport, por exemplo, foi o território de uma luta brutal de um grupo do PSD contra Sócrates e depois deste contra a justiça de primeira instância. Repetiu-se na forma despudorada como foi impedida a investigação ao dito Sócrates no chamado negócio PT/TVI. Construiu-se uma justiça amiga de quem tem poder e outra para o cidadão comum. A primeira está em crise,mas quer voltar a dar cartas. Resistir a isso, como prometem os magistrados do Ministério Público, é um imperativo patriótico. A eles devem juntar-se os juízes e os políticos que ainda acreditam no Estado de Direito

Visões Imparciais, ou não!!: Hoje penso em vinho, cerveja e comida. O vinho por...

Visões Imparciais, ou não!!: Hoje penso em vinho, cerveja e comida. O vinho por...: Hoje penso em vinho, cerveja e comida. O vinho porque me costuma andar pela cabeça, a cerveja porque vi uma notícia no fim-de-semana e a co...

Hoje penso em vinho, cerveja e comida. O vinho porque me costuma andar pela cabeça, a cerveja porque vi uma notícia no fim-de-semana e a comida porque sim. 
Os assuntos de Baco e Pantagruel sempre me interessaram. Confesso que nada percebo de vinho, sei apenas quando gosto e o quanto gosto. A minha paixão contínua é o tinto maduro e de preferência com algumas histórias para contar. Pontualmente deixo-me embalar pela cantiga de um verde tinto da casta vinhão ou mesmo branco desde que seja loureiro. Esta conversa toda nem é para falar dos meus gostos, mas apenas das minhas impressões sobre como o vinho foi ganhando lugar de destaque na sociedade e na economia.
Em qualquer mesa o vinho ocupa um lugar tão importante como a comida, mas nem sempre assim foi. Beber vinho é um costume que se está a introduzir na actual sociedade, transversal a todos os estratos ( há-os…) e sectores sociais. Num passado ainda próximo, senão presente, nos meios rurais o consumo de vinho por parte da população feminina era visto como um defeito que seria directamente proporcional à quantidade de bebida. Tudo o que passasse de molhar os lábios poderia ser encarado como um problema grande. A mulher perfeita nunca na vida poderia ter tocado numa gota de vinho. Gosto de ouvir as histórias de vida das pessoas mais velhas e já ouvi tanto homem exacerbar essa virtude na mulher (ou esposa!!) e nas filhas… mas as mulheres de hoje gostam de vinho e já não têm medo de beber. Um encontro de amigos, uma tertulia, um simples jantar prolongam-se com um (ou mais do que um…)copo de vinho na mão que se vai agitando, aquecendo, cheirando, provando e bebendo. Serão as mulheres de hoje mais corajosas do que as de ontem? Não me parece. O que tenho visto e sentido aponta num sentido diferente. O vinho, que antes era coisa de macho, e dava direito a uns tabefes na fêmea se a coisa para isso desse, hoje está revestido de tanta poesia que começa a ser suspeito como bebida de macho que assim se quer manter. Repare-se, antigamente o vinho tinha cheiro, a vinho claro!! Hoje deixou de ter cheiro e passou a ter aroma, e o aroma como coisa fina e elegante já não é a vinho, credo, hoje o vinho, esse pobre, foi despojado do seu cheiro forte de vinho com mais desta ou daquela casta, com mais madeira ou menos e ganhou aromas florados ou frutados, com toque de frutos vermelhos ou exóticos ou aromas primários ou trabalhados, enfim cá para nós, que ninguém nos ouve o vinho ficou um nadita amaricado. Outra coisa que o vinho ganhou (ou perdeu) foi corpo que ocupou o lugar do “pomadão “ ou “carrascão”, agora tem um “corpo elegante que permanece em boca com alongamentos de sabor e textura delicada” ou “taninos suaves e delicados que envolvem a boca e perduram com suavidade”, nada de deixar a “boca grossa”. E sobre a cor? Antes olhava-se e ou estava turvo ou limpo, mais tarde o termo cristalino foi introduzido no léxico sem ofender os ouvidos másculos. Hoje, a cor, para quem tenha veia poética, dá para umas horas de conversa, e deixou de ser cor-de-vinho e passou a ser rubi, granada, bordeux, âmbar, citrino… depois fala-se do brilho, da idade que a cor transparece, eu sei lá. No fundo é um mundo de fantasia, porque na verdade vinho é vinho, e isso deveria ser suficiente, apenas porque vinho é bom. Mas não, foi preciso enrolar o vinho num papel apetecível às massas para ele ser aceite pela sociedade. O Vinho, simples e singelo enche o cálice dos católicos, simbolizando o sangue de cristo, enche alguns dos versículos mais bonitos da Bíblia, perdeu estatuto e recuperou-o graças à poesia.
Agora a cerveja vou-me alongar pouco porque disto ainda percebo menos do que de vinho (mas também gosto!!). No fim-de-semana vi uma noticia sobre cerveja artesanal. E ouvi os produtores a enaltecerem as suas características…poéticas, o aroma frutado, a cor, a textura… não ouvi nenhum falar de CERVEJA. Estou cansada. Vou deixar isto para depois.
by, Anabela Bragança

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ébola, os cenários do horror, ou A Idade Média em pleno séc. XXI



Ébola
Este tema, o ébola, foi-nos enfiado pelos olhos dentro de uma forma vergonhosa durante o mês de Agosto. No final de Agosto, depois de conversas de milhões de doólares, a coisa foi esfriando e agora são residuais as notícias que nos chegam. Antes de mais convém referir que o ébola já é conhecido enquanto agente patogénico desde 1976, é tão mortal hoje como era ontem (+de 90%) e periodicamente faz estragos profundos nas populações que afecta.
Há vários dias que este tema me morde a nuca, se intromete ao jantar, no fundo me deixa a cabeça a doer. É tão aberrante o espectáculo que me dói a alma. Os cenários transmitidos pela televisão são dignos de filmes da idade média, por vezes sou empurrada para cenas do filme “O Nome da Rosa”, só que estamos no século XXI… combater uma epidemia vírica com armas de fogo é no mínimo estranho. Repugna-me assistir a cenas que só pensava possíveis nos cenários hipotéticos da literatura ou do cinema
Uma das cenas mais caricata é a fuga de doentes dos asilos de quarentena, por terem fome, fome!! Os doentes fogem do hospital para evitar morrer de fome!! O que é isto?? Uma cena do “Ensaio Sobre a Cegueira”? Infelizmente é real, e os doentes foram perseguidos quais cães raivosos, e encarcerados à força no mesmo lugar de onde tinham fugido. Afinal vão morrer de qualquer jeito para quê desperdiçar comida com condenados?
Os Estados Unidos vão gastar nesta crise 750milhões de dólares, em apoio bélico, formação  e também na construção de centros de tratamento até 1700 camas  (http://www.publico.pt/mundo/noticia/eua-anunciam-reforco-do-combate-ao-ebola-na-liberia-1669792). É uma atitude de louvar, embora seja muito pouco. Para além das construções previstas vão enviar um contingente assustador de homens que não são agricultores, nem pescadores, nem cozinheiros, nem outra coisa qualquer útil e que com eles não carregam comida nem medicamentos que, pelo menos atenuem a dor dos que vão morrer, mas sim chumbo, balas e granadas. O actual presidente até parecia destoar do discurso mentecapto que tem caracterizados as anteriores administrações, até pensava em acesso à saúde para todos os americanos e em deixar de se armar em polícia do mundo, mas parece que já embruteceu. A loucura saudável já era, agora temos lá um idiota como o antecessor, que envia soldados para um cenário em que a estratégia conducente à vitória passa por tudo menos por tiros. Num cenário de crise como o vivido em África, qualquer leigo fazendo análise simplista e básica, conclui que: são precisos médicos e enfermeiros e centros de tratamento com condições e equipamento; é precisa comida e água em abundância para minimizar as deslocações em sua busca; são precisos professores capazes de colmatar as lacunas de conhecimento que estarão para sempre na base das hecatombes que se abatem sobre estas sociedades; e claro tempo e paciência. Isto o mundo pode oferecer. Só não dá porque não quer. Portas adentro são precisas pessoas, nos postos de decisão, inteligentes e honestas, deve haver por lá, é só uma questão de os procurar.
Mas esta questão de ébola ainda me deixou outra pulga em alvoroço. O vírus é velho, todos os anos vai matando, muito estudos devem/podem já ter sido feitos, contudo, este verão o mundo viu o ébola! Antes nunca os nossos puros e limpos olhos tinham contemplado semelhante horror, o que não faz com que não existisse. Será que o facto de um empresa farmacêutica ter interesses económicos no caso tenha despoletado a campanha publicitária gratuita? Será que de facto o medicamento é eficaz? Não terão conseguido cobaias humanas gratuitas e com lucro logo à partida? É, o ébola deixa-me a cabeça cheia de cenários cinematográficos, agora aterrou-me em cima “O fiel Jardineiro” do grande Fernando Meirelles.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

As pontes do Amor



As pontes do amor
Cirandando pela net tropecei numa imagem horrível de cadeados. Isso trouxe-me à memória um dia em que, passeando por Veneza, fui confrontada com alguns quilos, muitos de certeza, de ferralha agarrada às pontes, não às de pedra, mas em todas as outras em que existe algum sítio para pendurar. Fiquei curiosa, e fui investigar. Perguntei a uns adolescentes, ainda imberbes, que me explicaram ser uma tradição para selar o amor que os unia. Pessoalmente achei o espectáculo aberrante, na altura apenas pela sua fealdade, posteriormente também pelo ridículo que encerra em si. Dei uma volta pela net e encontrei aquela que pode ser a origem deste costume imbecil, que até pode fazer sentido tratando-se de adolescentes, mas que ao tocar em adultos assume um carácter de tal forma ridículo que me arrepia. Terá sido um romancista italiano, Francisco Moglia, o “pai-sem-querer” desta pseudotradição, uma vez que em dois dos seus romances de amor (antigamente chamavam-se “de cordel”…) os apaixonados fazem as juras de amor eterno sobre a ponte Milvio, acorrentam esse amor e de seguida lançam a chave às águas do Tibre. Ora esta bizarrice já provocou estragos nesta ponte e só não continua porque as autoridades, em claro desrespeito pela seguranças dos amores jurados, vão eliminando o lixo e deixando a (velhíssima) ponte limpa de tolices e disparates. Se tem ficado por lá, por Roma, enfim… quase se aceitava, mas não, a tolice alastrou e neste momento a sagrada instituição do matrimónio corre sérios riscos de ser substituída por outra aparentemente mais segura. Os adultos sabem que o casamento não confere lá grande segurança à eternidade dos amores e então é vê-los, quais diminuídos em termos sinápticos, a aferrolharem o amor numa qualquer ponte, de preferência longe, para garantir a quimera, lançando com fervor e juras solenes as chaves dos cadeados às águas de um qualquer rio. Em Paris foi feito um apelo para que o amor parasse de colocar em risco obras belíssimas e tão prenhes de história e que já sobreviveram a guerras (que tristeza… sobreviver a guerras e morrer em nome de tanto amor!) mas parece que isso não surtiu efeito. Em Roma e na Irlanda não há qualquer contemplação das autoridades pelos “acadeamentos” e de pronto são removidos (será isso divórcio?). Por cá já se vêem, mas ainda não são perigosos. Mas não deixa de ser crime!  
Quando comecei a pensar neste assunto a primeira palavra que me assomou ao espírito foi “vandalismo” e é a que se mantém. É vandalismo alterar/destruir/mutilar algo. Se aplicado a edifícios ou monumentos assume um carácter ainda mais agressivo. Seria então conveniente que esta nova categoria de vândalos – os vândalos do amor – se deixasse de tolices e se lembrasse que a história (e seus monumentos!) não tem donos nem amarras. Os jovens podem sempre manter-se apegados às tradições dos cadeados virtuais, os adultos, depois de crescerem ficam a saber que o amor é eterno até que se acaba. A santa madre igreja anda há séculos a tentar garantir a eternidade do amor sem sucesso, não será, por certo, a obra de um qualquer engenheiro a consegui-lo. Ainda nenhuma universidade tem o curso de “engenharia do amor”…

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Mais Platão, menos Prozac!

Deixo na secção de ACTUALIDADE, um artigo de Manuel Sérgio publicado no jornal "A Bola".
Vale a pena gastar uns segundos na sua leitura.