segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ébola, os cenários do horror, ou A Idade Média em pleno séc. XXI



Ébola
Este tema, o ébola, foi-nos enfiado pelos olhos dentro de uma forma vergonhosa durante o mês de Agosto. No final de Agosto, depois de conversas de milhões de doólares, a coisa foi esfriando e agora são residuais as notícias que nos chegam. Antes de mais convém referir que o ébola já é conhecido enquanto agente patogénico desde 1976, é tão mortal hoje como era ontem (+de 90%) e periodicamente faz estragos profundos nas populações que afecta.
Há vários dias que este tema me morde a nuca, se intromete ao jantar, no fundo me deixa a cabeça a doer. É tão aberrante o espectáculo que me dói a alma. Os cenários transmitidos pela televisão são dignos de filmes da idade média, por vezes sou empurrada para cenas do filme “O Nome da Rosa”, só que estamos no século XXI… combater uma epidemia vírica com armas de fogo é no mínimo estranho. Repugna-me assistir a cenas que só pensava possíveis nos cenários hipotéticos da literatura ou do cinema
Uma das cenas mais caricata é a fuga de doentes dos asilos de quarentena, por terem fome, fome!! Os doentes fogem do hospital para evitar morrer de fome!! O que é isto?? Uma cena do “Ensaio Sobre a Cegueira”? Infelizmente é real, e os doentes foram perseguidos quais cães raivosos, e encarcerados à força no mesmo lugar de onde tinham fugido. Afinal vão morrer de qualquer jeito para quê desperdiçar comida com condenados?
Os Estados Unidos vão gastar nesta crise 750milhões de dólares, em apoio bélico, formação  e também na construção de centros de tratamento até 1700 camas  (http://www.publico.pt/mundo/noticia/eua-anunciam-reforco-do-combate-ao-ebola-na-liberia-1669792). É uma atitude de louvar, embora seja muito pouco. Para além das construções previstas vão enviar um contingente assustador de homens que não são agricultores, nem pescadores, nem cozinheiros, nem outra coisa qualquer útil e que com eles não carregam comida nem medicamentos que, pelo menos atenuem a dor dos que vão morrer, mas sim chumbo, balas e granadas. O actual presidente até parecia destoar do discurso mentecapto que tem caracterizados as anteriores administrações, até pensava em acesso à saúde para todos os americanos e em deixar de se armar em polícia do mundo, mas parece que já embruteceu. A loucura saudável já era, agora temos lá um idiota como o antecessor, que envia soldados para um cenário em que a estratégia conducente à vitória passa por tudo menos por tiros. Num cenário de crise como o vivido em África, qualquer leigo fazendo análise simplista e básica, conclui que: são precisos médicos e enfermeiros e centros de tratamento com condições e equipamento; é precisa comida e água em abundância para minimizar as deslocações em sua busca; são precisos professores capazes de colmatar as lacunas de conhecimento que estarão para sempre na base das hecatombes que se abatem sobre estas sociedades; e claro tempo e paciência. Isto o mundo pode oferecer. Só não dá porque não quer. Portas adentro são precisas pessoas, nos postos de decisão, inteligentes e honestas, deve haver por lá, é só uma questão de os procurar.
Mas esta questão de ébola ainda me deixou outra pulga em alvoroço. O vírus é velho, todos os anos vai matando, muito estudos devem/podem já ter sido feitos, contudo, este verão o mundo viu o ébola! Antes nunca os nossos puros e limpos olhos tinham contemplado semelhante horror, o que não faz com que não existisse. Será que o facto de um empresa farmacêutica ter interesses económicos no caso tenha despoletado a campanha publicitária gratuita? Será que de facto o medicamento é eficaz? Não terão conseguido cobaias humanas gratuitas e com lucro logo à partida? É, o ébola deixa-me a cabeça cheia de cenários cinematográficos, agora aterrou-me em cima “O fiel Jardineiro” do grande Fernando Meirelles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário